sábado, 18 de setembro de 2010

Seis versinhos pairando no paradoxo.

De dizer o melhor está em seguir-se desdizendo
O maior indício da certeza está na dúvida
A convicção de uma informação é falta dela.
É necessário nos certificarmos de nunca termos certeza
Para que sejamos, na tentativa e no erro,
A possibilidade de estarmos certos.

O minuto.

Deste minuto preparação para o que vem
E dele investimento no próximo também.
Caras e bocas pelos que não fazem assim
Cobiçando o que cada minuto faz de mim.
Deixem consumir-se no planejamento,
Mas afastem de mim esse tipo de tormento.
Não vou olhar para a eternidade posterior
A infinidade deste minuto mora no meu interior.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Inspiração por falta da própria.

"Os Ombros Suportam O Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
"

Carlos Drummond de Andrade.

Chega um tempo em que os meus olhos cegos ao que é singelo e minha cabeça desocupada em se projetar ocupada não me permitem mais expressar esta falta de expressão que me consome. O fim deste dia cheio de horas vazias, na correria de se correr para lugar nenhum, me deixou a lágrima pesada de um inocente que ainda consegue chorar e que se permite sorrir. De fingir tentar fazer de tudo o tempo todo, veio agora a vontade de fazer algo em que estivessem presentes todas as partes de mim, mas estou sem tempo.

sábado, 11 de setembro de 2010

Amor de criança.

Foi, um dia, simplesmente por amor
Experimentação coletando prazeres,
O pulso iniciado em braços e pernas
Talvez nunca passasse à cabeça.

Por amor meus erros ortográficos
Alagaram os olhos orgulhosos de minha mãe
Soluços pelo dedo na tomada
Mantiveram-me distante dela.

O amor bastou para que eu fizesse,
O dor colocou os limites líquidos
E singela se criou a beleza dos meus atos
Efêmera, mas tal como um riso de criança.

Eu fazia castelinhos de areia
Caíam, é bem verdade.
Foi motivo para me ensinarem desenho?
É, as plantas no papel não desmoronam.

Ah! Essas minhas plantas no papel!
Por que não viram castelos?
Esta vida cria expectadores,
Valoriza os Engenheiros calados.

Ainda que se tratasse de um planejamento...
Porque planos são para ações (não?)
Não, eu continuo apenas projetando
Essa vida vai em vão!

Mas, entre elaborar por toda minha vida
Ou viajar entre papel e letras...
Mantém-me na linha a régua
Do desenho que substituiu o castelo.

Ai que a vida me fez tão pequena!
Afinal, o que acreditamos é.
E perdi minha visão tridimensional
Tem um círculo ao meu redor!

Há coisas que eu não fiz e nem quero.
Eu juro, não quero!
Sério! Eu não quero, juro!
Seria um absurdo querer.

Por que mesmo seria absurdo?
Ah, que importa...
É assim que é, sempre foi
Não há motivo para experimentar.

Deus! (“Deus”...) o quê fizeram comigo?
Levaram-me a criança pequena e indefesa
Indefesa... Ainda que sou achando não ser!
Oxidada, estragada, manchada de vinho.

Nasci poeta
Cresci leitora
Formei-me doente
Estou de cama
Doença auto-imune!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ridículos os poetas.

Ridículos os poetas do amor,
desperdício de literatura
Os mesmos clichês,
no mesmo dizer e não dizer
Restringir o sentimento do mundo
à peculiaridade dessa disritmia.
Mas de que fala um poeta
se não escreve amor?
Em que emprega sua literatura?
A poesia passa dos clichês
aos olhos que não sabem ler?
Quê move o mundo se não o amor?
Do amor nasce uma criança,
Pelo amor um homem mata
Amor que fala, tenta, faz
Constrói e destrói limites
Seja dito o que for
Ridículos os poetas que não escrevem
O amor.

Representação.

E fizeram dele idéias, estereótipos
Um espaço nos campos morfológico e figurativo
Hoje serve de falsa motivação
Fecha os olhos como fé ou desejo de vingança
Abala regras e raciocínio
Funde-se e confunde-se com libido
Não cabe dentro nem fora de nossos corpos
Não está nos símbolos que o comércio criou
Não está no que dizemos ou fazemos
Não está na cabeça, muito menos no coração
Mas transforma pensamentos e acelera batimentos
Seu efeito pode tudo em tudo
Desperta a maior das forças
Representa a maior fraqueza
É no que tudo começa e termina
Domina todo tipo de arte
Não se entende por quem é afetado
Ainda menos por quem não é
E toda a arte produzida nisso
Tanto quanto foi escrito, cantado, recitado
Pintado, dramatizado ou simplesmente dito
Faz parte de uma prova de existência
Quase sempre um falar a respeito
Inconsistente e falsificado
Representações.
Representações.
Mas ele aparece nos detalhes
Camuflado e extravagante
Para os poucos que simplesmente sabem
Os que, como eu, não o enxergam
Não o sentem, não o ouvem, não o tocam
Mas o vivem.