sábado, 3 de março de 2012

Princesinha.

Certa vez, quando tinha 10 anos, grampeei capas às minhas redações e fiz minha primeira sessão de autógrafos na venda dos meus primeiros livros. Chamei as pessoas grandes para o grande lançamento.
Era tarde demais, eu estava apaixonada. (:

sexta-feira, 2 de março de 2012

Uma ponta de Iago.

Duma ponta de cortina eu escancaria a janela,
Espremeria os olhos nos formatos das nuvens,
escreveria poemas nas paredes do meu quarto,
entregaria um de meus amigos num telegrama!
Vestiria vestidos velhos bem votados em vitrines.
Reduziria a pó sonhos costurados na infância.
Ai, que o moinho do meu mundo é um passarinho.

Versos de aula.

Ora, Alberto Caeiro, se penso de olhos e de ouvidos, há de me apodrecer o resto do corpo e o todo da alma.
Diga aos que observam as flores que plantei nelas meus amores.
Diga que o signo é significante por significar seu significado.
Diga que a gente daqui se apaixona da mente...
Do corpo, da alma...
Apaixonadamente.

Dom.

E se Capitu tivesse contado a história?
Foi lá contada decor, de coração!
Ora, são Bento, tanta decoração...
Decor a imagem de coração
casmurro de si mesmo
E se eu contasse a história?

Pastiche.

Correu-me, aos berros:
Uma flor nasceu na rua!
Ora, e que há de ser dela?
Bonina de si mesma, findará,
Inda hoje, numa pisadela.
Mas é uma flor. E furou o asfalto.

Panapaná.

Prosseguiu bem uns vinte minutos o falar ininterrupto da moça. Os cabelos pulavam-lhe sobre o colo entre esconder e deixar ver um decote tímido de renda. O rapaz à sua frente soltava lá suas três palavras de quando em vez e desviava os olhos em direção à TV atrás da moça, como quem procura respirar. Havia já muito a ser dito, mas pouco que se pudesse de fato dizer. Ele levantou e andou ...em direção à porta. Ela ficou sentada e, nem os olhos claros úmidos, nem o corpo que mal se moveu pareceram menos vazios que o copo sobre a mesa. O rapaz pegou um guardanapo perto da porta e desenhou o que não poderiam ser mais que sete palavras. Quando se aproximou da moça, trazia um bofete, um afago ou algo entre isso e aquilo. Deixou o guardanapo entre os dedos dela e tanto bastou para... Se era um poema? O mais lindo que já vi.

Nostalgia.

Era sim, exatamente o cheiro do sabão que lavava o quintal da tia. Era também o som dos sapatos emborrachados chegando à cama para deixar o beijo de bom dia. Era um fone para cada um, enquanto os lábios cantarolavam e pregavam selos tímidos, escancarados. Era um cartaz à letra iniciante do segundo grau, um passeio entre os muros da escola. Era patinar no shopping e equilibrar bexiga no espeto. E, não sendo, continua a ser.

Memórias de guardanapo.

O copo, tal qual minha cabeça, meio cheio, meio vazio. Mais à frente, dois olhos serelepes de sete anos bisbilhotavam a mesa falante e boêmia. Ora, não seria tão somente aquele punhado de cevada metida num copo. Ali, os sorrisos caminhavam descompassados, despreocupados. Vieram os pijamas, as pernas de índio. Vieram os cabelos amanhecidos e os olhos maquiados de pressa e d...e capricho. Ali, a inocência dos pés que não chegavam ao chão no banco de um bar eram o mesmo que a embriaguez concedendo passe-livre às palavras que não deveriam sair de mãos dadas pelos lábios um tanto soltos demais. Ali, caso perguntassem, entre um gaguejo amolecido e um motivo quase arquitetado, escaparia: era eu.
Branca, tal qual os lençóis entre, durante, enquanto e ao redor dela.
Tal qual seu sorriso ingênuo, engenhoso.
Branca como a alvorada, que fissurava as ternas estampas das cortinas inquietas de uma brisa dorminhoca, indo deitar sobre a pele lisa da mocidade.
Branca, assim. Completamente nua.

Dora.

E os pés, a vida toda esparramados pelo chão seco, terminaram por ressecados também. Falo deles que é neles que punha os olhos ao caminhar. Vinham agora metidos em sandálias avelhentadas que por pouco seriam a terra quente dali. Dum pedaço de pano florido fizera-se o vestido de cortes tortuosos na mesma cor do laço que trazia nos cabelos de sol. Desta vez, o corpo magricela, tocado de um brio jam...ais experimentado, animou-se um tanto mais. Postou, com três dedos de cada mão, as madeixas por trás das orelhas, deixando ver um rosto um tanto moço para aqueles pés. Sentou-se frente à mesa, mirando o caderninho com capa de pano e perguntou à senhora do outro lado sobre o preço. Deixou escapar entre os dedos umas cinco moedas e pôs-se a ditar o que levaria a carta ao amado sertanejo. A senhora registrava palavra a palavra o borboletear ansioso do que havia a moleca a dizer. Posso pegar o papel e a caneta um minutin? Agarrou, desengonçada, a caneta e desenhou cheia de si: Doralice.