sexta-feira, 2 de março de 2012

Panapaná.

Prosseguiu bem uns vinte minutos o falar ininterrupto da moça. Os cabelos pulavam-lhe sobre o colo entre esconder e deixar ver um decote tímido de renda. O rapaz à sua frente soltava lá suas três palavras de quando em vez e desviava os olhos em direção à TV atrás da moça, como quem procura respirar. Havia já muito a ser dito, mas pouco que se pudesse de fato dizer. Ele levantou e andou ...em direção à porta. Ela ficou sentada e, nem os olhos claros úmidos, nem o corpo que mal se moveu pareceram menos vazios que o copo sobre a mesa. O rapaz pegou um guardanapo perto da porta e desenhou o que não poderiam ser mais que sete palavras. Quando se aproximou da moça, trazia um bofete, um afago ou algo entre isso e aquilo. Deixou o guardanapo entre os dedos dela e tanto bastou para... Se era um poema? O mais lindo que já vi.

2 comentários:

  1. Às vezes precisamos morrer por dentro para nascer de novo. Mas se formos bem atenciosos, nascemos e morremos muitas vezes, com pequenas epifanias. Muitas vezes matamos inimigos internos apenas, mas a impressão de que morremos junto não é incomum. Às vezes nos descobrimos melhores em nós mesmos, mas nem sempre - nessas ocasiões - nascemos novamente.

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  2. Há partes de mim que não conseguem morrer! Sinto-me,no entanto, por vezes, completamente morta. Falta-me, afinal, um poema desses, dos mais lindos de se ver, vindo de um alguém... Que não faz poesia.

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