terça-feira, 14 de setembro de 2010

Inspiração por falta da própria.

"Os Ombros Suportam O Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
"

Carlos Drummond de Andrade.

Chega um tempo em que os meus olhos cegos ao que é singelo e minha cabeça desocupada em se projetar ocupada não me permitem mais expressar esta falta de expressão que me consome. O fim deste dia cheio de horas vazias, na correria de se correr para lugar nenhum, me deixou a lágrima pesada de um inocente que ainda consegue chorar e que se permite sorrir. De fingir tentar fazer de tudo o tempo todo, veio agora a vontade de fazer algo em que estivessem presentes todas as partes de mim, mas estou sem tempo.

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